O caranguejo rei

Essa é uma lenda antiga, narrada por Câmara Cascudo em seu livro Dicionário do Folclore Brasileiro, e que hoje está praticamente escquecida no município. Diz a lenda que os caranguejos do manguezal também teriam um governante, uma espécie de rei. Esse caranguejo, chamado garrancho, seria bem maior, com uma carapaça que mediria em torno de vinte centímetros. Suas tenazes, então, chegariam a mais de trinta centímetros. Sua cor seria esverdeada, muito embora esse misterioso caranguejo quase nunca seja visto pelos pescadores. Viveria nas profundezas da lama, num buraco de entrada escondida e nenhum pescador teria a oportunidade de ve-lo duas vezes na vida. O garrancho só deixaria o buraco uma vez por ano, para sair à meia-noite da Sexta-Feira-da-Paixão. Andaria pelo mangue até o primeiro cantar do galo e voltaria ao seu abrigo. Depois não haveria mais quem o enxergasse. O pescador que conseguir arrancar ao menos uma pata do garrancho estaria com a vida garantida, pois nunca mais lhe faltaria caranguejo. Bastaria trazer a pata do garrancho no bolso e riscar com ela a lama do mangue que os caranguejos obedeceriam ao chamado e viriam em direção do pescador. Nessa narrativa a ideologia humana de possuir um governo é projetada para o mundo animal como se fosse uma necessidade natural. Além disso, pode-se observar a idéia da garantia perpétua da sobrevivência através de ritos mágicos.

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