A LENDA DA ÍNDIA QUE DEVOROU O FILHO



Nas matas próximas da comunidade do Catú teria vivido uma índia arredia que, acompanhada de um filho, vagava pela solidão das capoeiras e dos tabuleiros entre os municípios de Canguaretama, Goianinha e Pedro Velho.
Se comentava que a dita índia teria cometido incesto com o próprio filho que a acompanhava em sua fadada vivência errante. Durante a gestação ela quase não foi vista e, depois do parto, o recém-nascido teria sido devorado pela mãe e pelo irmão. Depois disso, eles teriam desaparecido e ninguém mais os viu vagar pela região.
Contado pelo povo da comunidade do Catu como uma lenda, é bem possível que esse fato tenha ocorrido realmente, mas não exatamente como seria relatado. O mais provável é que, na segunda metade do século XIX e início do XX, um pequeno grupo de indígenas (de no máximo cinco indivíduos) tenha buscado refúgio nas matas próximas do litoral para buscar comida.
Esse suposto grupo deveria viver escondido e só mulheres e crianças se aproximavam das áreas habitadas, geralmente para mendigar algum alimento. Dificilmente ela teria cometido incesto com seu filho, pois os indígenas respeitam muito suas tradições e não quebraria um tabu como esse. Se ela realmente vivia sozinha, deve ter sido abusada sexualmente pelos homens brancos que viviam na região.
O fato de ter comido o próprio filho depois do parto aponta para uma característica dos povos nativos que habitavam o interior do território, que pertenciam a etnia tarairiu ou tapuia. Esse grupo de nativos praticava o endocanibalismo, um tipo de antropofagia que atingia os membros do próprio grupo e associada a práticas funerárias. O povo tapuia costumava comer seus parentes para manter os ancestrais unidos dentro de cada indivíduo do grupo. As mães justificavam afirmando que o melhor túmulo para seus filhos seria seu próprio ventre. Por isso costumavam comer os filhos que morriam no parto.
Entendendo a cultura em que está inserido um grupo, percebemos que o ato da mãe estava de acordo com sua vivência, muito embora tenha parecido muito estranho para nós.

Narrativa colhida do caboclo Nascimento, do Catu dos Eleotérios (Canguaretama/Goianinha RN)
Imagem: Índia Tarairiu (Tapuia) - Albert Eckhout, 1641. Óleo sobre tela 264 X 159. Museu Nacional de Copenhague, Dinamarca.

Comentários

  1. Eu achei essa estória muito grande 3 se alguém tipo uma criança for precisas dessa lenda vai ter que procurar outra por que não parede apropriado para crianças

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